Do Mito a Razão: O Nascimento da Filosofia.


Todas as coisas eram explicadas através dos mitos. Entretanto, os primeiros filósofos gregos não estavam satisfeitos com as explicações dos mitos. Estes filósofos são freqüentemente chamados de "filósofos da natureza" e se interessavam, sobretudo pela natureza e pelos processos naturais.
Eles sempre partiam do fato de que sempre existiu "alguma coisa".
Os filósofos viam com seus próprios olhos que havia constantes transformações na natureza. Mas como estas transformações eram possíveis? Como uma substância podia se transformar em algo completamente diferente, numa forma de vida, por exemplo?
Os primeiros filósofos tinham uma coisa em comum: eles acreditavam que determinada substância básica estava por trás de todas essas transformações da natureza.
Podemos dizer que esses filósofos deram os primeiros passos na direção de uma forma científica de pensar. E com isto deram o pontapé inicial para todas as ciências naturais, surgidas posteriormente.
Com eles a filosofia nasce com um conteúdo cosmológico. Cosmologia
As principais características da cosmologia são:
1. É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza;
2. Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido do nada. Para os Pré-socráticos, o Mundo, ou a Natureza, é eterno. Tudo se transforma em coisa sem jamais desaparecer.
3. O fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo volta é invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, isto é, para o pensamento.
4. Este elemento de onde tudo brota e para onde tudo retorna é o elemento primordial da Natureza e chama-se physis (que significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir). A physis é a Natureza em constante transformação.
5. A physis sendo um elemento primordial eterno, ele dá origem a outros seres que são perecíveis e mortais, as coisas físicas.
6. Além de todos os seres serem gerados e mortais, são seres em contínua transformação, mas não perdendo sua forma, sua ordem e sua estabilidade.
Essa mudança chama-se movimento, para os pré-socráticos. O movimento do mundo chama-se devir e o devir segue leis rigorosas que o pensamento conhece. Essas leis são as que mostram que toda mudança é passagem de um estado ao seu contrário.
O devir é, portanto, a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário e essa passagem não é caótica, mas obedece a leis determinadas pela physis.

Os primeiros filósofos
Os gregos são os primeiros a colocar a questão da realidade numa perspectiva não mítica. Embora revelando influências do pensamento mítico anterior e contemporâneo, as explicações produzidas pelos primeiros filósofos, por volta do século VI a. C., na colônia grega de Mileto, na Ásia Menor, são consideradas por muitos o embrião da ciência e da filosofia, ou seja, do pensamento racional .
Tales, Anaximandro, Pitágoras
Mais antigo filósofo de que se tem conhecimento que terá encontrado uma resposta para esta questão foi Tales. Pensou ele que o princípio único de todas as coisas era a água. Pela mesma época outros filósofos tomaram posições mais ou menos parecidas com a de Tales. Foi o caso de Anaximandro e de Pitágoras que fizeram do indefinido e do número respectivamente o princípio originário a partir do qual tudo proveio.
Heráclito e Parmênides
As respostas irão progressivamente tornando-se mais elaboradas, embora sempre centradas no problema da unidade ou da multiplicidade, da mudança ou da permanência das coisas. Nesse sentido, Heráclito e Parmênides, representam, historicamente, um radicalizar de posições: o primeiro aparece como o defensor da mudança: não se pode penetrar duas vezes no mesmo rio; o segundo, como partidário radical da unidade fundamental de todas as coisas. Esta oposição não resiste, todavia, a um estudo aprofundado das posições dos dois pensadores.
Ficaram célebres os argumentos ou paradoxos inventados por Zenão de Eléia, discípulo de Parmênides, com o objetivo de mostrar o caráter contraditório do movimento, e assim defender as teses do mestre sobre a imutabilidade do real. Para além de uma reflexão sobre a natureza do espaço, do tempo, do conhecimento e da realidade, os paradoxos de Zenão desencadearam uma crise na matemática da Antigüidade, que só viria a ser resolvida nos séculos XVII e XVIII d. C., com a criação da teoria das séries infinitas.
Sócrates
Finalmente, com Sócrates verifica-se uma assinalável ruptura em relação aos antecessores. Explicar a origem e a verdade das coisas através de objetos e realidades materiais torna-se absurdo. Só no interior do homem se pode encontrar a verdade e Sócrates passa toda uma vida a ridicularizar aqueles que pensam saber qualquer coisa que não seja de natureza espiritual. A ontologia, ou ciência do ser, entra aqui numa fase completamente nova, mas para isso remetemos para o capítulo relativo às respostas dos filósofos, mais especificamente as respostas de Platão, discípulo direto de Sócrates, e Aristóteles, discípulo de Platão.

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